quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Miopia Social e Cívica Brazuca

A Miopia Social e Cívica Brazuca. Hoje tive uma experiência que acentuou minha sensação de solidão e isolamento. Não falo de solidão no sentido convencional. Não solidão como um sentimento depressivo por não ter amigos. Na verdade nem ligo para isso. Falo da solidão da pessoa que vê coisas que não consegue comunicar aos outros, coisas erradas e injustiças, ou que, mesmo comunicando, não encontra solidariedade ou identificação da parte daqueles para quem ele comunica suas indignações. É como se todos os demais fossem cegos. Ou loucos. Mas sou eu que sou olhado como se fosse o louco, o pária, o diferente do gado. Não sou parte do gado que muge alegremente enquanto os donos e funcionários dos abatedouros os levam para a morte. Sou aquele que sozinho, na solidão de seu conhecimento, sabe que está tentando salvar ovelhas que não merecem sua ajuda. Passei por uma drogaria hoje, perto do centro da cidade, uma da Drogasil. Comprei remédio para dor de cabeça e passei no caixa para pagar. Lá encontrei a moça que mereceria receber hoje o Prêmio Falta de Noção do Mês. Ela comentou, apontando para o outro lado da rua, que dois funcionários da C.E.T. estavam a horas tentando consertar o controle de um semáforo (que tipicamente ela se referiu ao mesmo como "farol" - o que me fez pensar em navios, mar...). Olhei brevemente e me voltei para ela, olhando-a nos olhos e falando com bastante firmeza para não ser mal compreendido "Você já notou como os funcionários das companhias que fazem instalações de fiação de TV a cabo e de Internet e telefonia deixam pesados rolos de fios pendendo dos postes sob o risco de caírem e como deixam metros de fios soltos nas calçadas em torno dos postes ou fios pendendo e descascados oferecendo perigo de acidentes e mesmo um dano estético?" Ela me olhou com olhos arregalados como se estivesse falando uma antiga língua celta e retorquiu "Não, são funcionários que consertam farol [sic]". Indiquei que havia entendido e prossegui tentando explicar para ela do maior perigo dos fios pendendo, esteticamente horríveis e uma ameaça à segurança e à vida dela e de seus parentes e ela me olhou com olhos ainda mais arregalados e franziu a testa como se pensasse "Esse cara deve ser louco, nem sei do que ele está falando". De fato não sabe, não sabia e talvez nunca saberá. Ela é um exemplo típico do estado de alienação mental, cultural, social e cívica do povo deste país. Vivemos sob toneladas de fios embaraçados, caóticos e pendendo tortos e descascados de postes que muitas vezes já causaram desde pequenos acidentes com tropeções e quedas até mortes por eletrocução. Mas pouco se ouve falar sobre isso na imprensa. Será que é apenas omissão dos meios de comunicação? Sei que não. Trata-se de algo mais profundo, mais arcaico e mais arraigado: a completa falta de consciência cívica do povo deste país, pelo menos da maioria deles. Você, o leitor, pode ser uma exceção, mas lembre-se, é uma EXCEÇÃO e não a regra. Assim como eu. Vivemos sob toneladas de lixo, desde pequenos saquinhos de plásticos jogados sobre arbustos em calçadas, roupas velhas ou pipas jogadas sobre galhos de ipês, de outro modo bonitos e esteticamente atraentes, sob toneladas de lixo de todo tipo, fezes, urina, papel, restos de comida e de móveis jogados nas calçadas, em canteiros de árvores, em bueiros (entupidos) e mesmo debaixo de avisos da prefeitura de que "é proibido jogar entulho neste local". Parece mesmo que fazem isso de propósito como forma de insultar as poucas pessoas que não compartilham de seus modos bárbaros. Vivemos sob o enorme silêncio cúmplice da falta de denúncias feitas pelas próprias vítimas ou potenciais vítimas desses abusos e atos de vandalismo, moradores que deveriam ficar indignados com esses crimes ambientais de que são vítimas, mas ora...eles memso são alguns dos autores de tais atos de vandalismo! Vivemos sob pares de sapatos jogados sobre fiação elétrica e telefônica. E nenhum protesto, nenhuma observação indignada. Vivemos em cidades em que calçadas, que deveriam ser padronizadas, retas e públicas, são tortas, cheias de subidas e descidas e feitas de entrada de carros pelos moradores, o que impossibilita que uma mãe com um carrinho de bebê ou um cadeirante as use como deveria ser seu direito garantido. Essas pessoas andam pelas ruas disputando o espaço com carros, motos, ônibus e caminhões. E elas mesmas reclamam? Não. São brazucas. Um povo "cordial". Cordial como em cordeiro pronto para o abate e feliz em virar carne moída. Nem sequer os mais interessados em acabar com todas essas formas de barbarismo que fazem deste país uma sociedade primitiva e incivilizada se incomodam e tomam a iniciativa de se queixarem ou de protestarem, sozinhos ou organizadamente. É mais fácil juntar 100 pessoas para linchar uma mulher suspeita de matar crianças em rituais de magia negra do que juntar 2 cadeirantes para assinar um abaixo-assinado exigindo que as calçadas sejam padronizada, retas e feitas pela prefeitura e não pelos moradores com seus interesses pessoais. Este é o país porque esse é o seu povo. Um país não é um terrritório ou uma abstração jurídica. Um país, uma nação, é o povo que a ocupa. Ao falar no país, estou falando no povo do país. Não haverá como termos um país melhor com o mesmo povo que o habita a centenas de anos. Continuo aqui em minha solidão vendo os erros e atos de barbarismo, vandalismo e o que mais me dói, a falta de consciência cívica dos brazucas. 
Vejo os olhos vazios e estúpidos daquela funcionária da drogaria que não entendeu que eu estava tentando alertá-la para algo legitimamente sério e grave para sua própria segurança e para a de seus familiares. 
Mas vejo apenas os olhos imbecilizados de uma ovelha cretina. Cretina, inconsciente e brasileira.